Unicornilândia

Juliana Colares
2 min readJul 20, 2019

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Tive um pesadelo. Daqueles horrorosos em que você acorda do sonho dentro do sonho, sabe?

Abri os olhos e vi que estava deitada na grama, num dia de muito sol e céu azul. A primeira coisa que vi, na verdade, foi um reluzente arco-íris. E pensei: ué, mas sem nem sinal de chuva?

Ainda em transe em meus pensamentos, ouvi risos, olhei em volta e percebi que estava cercada por unicórnios, todos brancos, que deslizavam não em um, mas em vários arco-íris, de um lado para o outro.

Sem saber que era um sonho, levantei tentando entender onde estava e percebi que era no Aterro do Flamengo. Havia unicórnios deitados em cangas com bebês unicórnios com colares de âmbar, unicórnios fazendo yoga, andando de perna de pau, vendendo vitamina da lua, em copos brilhantes.

Sim, tinha isso, os unicórnios usavam purpurina e eu me perguntava se já era carnaval de novo, mas não, é julho! Eu tentava fugir de mansinho, mas era capturada por sorridentes unicórnios para uma dinâmica de grupo unicorniana. Eles eram tão simpáticos, mas tão simpáticos que eu não conseguia fugir, nem balbuciar que seus cascos estavam me machucando.

Primeiro, fazíamos uma roda e dávamos as mãos — patas, no caso deles — e, lembrei agora, tinha um unicórnio que dava as regras, tipo puxador de quadrilha ou siga o mestre, sabe? Dizia primeiro para abrirmos a roda, depois para fecharmos, depois para ficarmos em círculo de costas um para o outro, colar os cascos — pés, no meu caso — nos cascos do unicórnio da frente e quando estivéssemos todos muito juntos, dizia para tentarmos sentar. E todos riam, eu não entendia o porquê.

Tentava fugir, mas vinha outro unicórnio sorridente e purpurinado e me puxava de volta. Dizia para eu sentir, liberar, não sei, alguma coisa que eu não estava entendendo. Sei que me botaram de novo na roda e agora tínhamos que, em duplas, dizer para o outro qual o nosso maior medo. É o quê, mermão?, eu lembro que pensava isso, olhava em volta e tinha unicórnio chorando, unicórnios se abraçando, um negócio muito louco.

Do nada, a dinâmica já tinha mudado de novo e a ordem agora era massagear o unicórnio da frente. Como assim, caralho, que porra é isso, e antes que eu conseguisse juntar lé com cré, havia patas nas minhas costas.

O mestre-unicórnio, que era o mais esquisito de todos, o mais sorridente e cheio de purpurina — meu deus, como deve ser um banheiro de unicórnio, com essa porra colorida brilhante por todo lado? — ditava que parte do corpo deveríamos massagear. E os unicórnios riam aquele riso esquisito, sabe, de gente feliz demais?, enquanto davam batidinhas com os cascos nas costas, braços, pescoço do unicórnio da frente.

Quando o unicórnio-mestre-puxador-de-quadrilha disse pra massagear a bunda do da frente, eu saí correndo, antes que metessem um casco no meu cu e me dissessem pra relaxar e sentir a conexão com o coleguinha. Se fuder. Acordei. Acho.

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Juliana Colares
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